quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Edição nº4



CRÓNICAZINHA....

Benvindos a esta terra rodeada por mar onde todos os homens se deixam estar.

Será isto verdade?

Olhamos para longe, onde tudo se desenvolve, tudo se movimenta, tudo cresce, e dizemos, já por tradição, que aqui, nada acontece. Mantemos os olhos bem abertos, direccionados para Lisboa, Porto, e Coimbra: espaços abrem, espaços fecham, pessoas, artistas, cientistas, nascem, visitam, ou são atraídos até. Toda a actividade destas grandes cidades dever-se-á certamente ao grande fluxo de pessoas, ao investimento por parte de empresas e instituições e à grande densidade populacional que estas comportam. Mas, perguntamos, quais as dificuldades apresentadas ao cidadão comum, desde a concepção até à concretização de uma ideia, num destes grandes centros?

A verdade é que estes sítios de grande dimensão encontram-se sobrepopulacionados e o espaço físico que poderia ser aproveitado para tais construções é limitado, tanto porque, devido ao anterior, existe alguém em cada canto, como também, a área disponível para novos investimentos é escassa. Para além do mais, nas grandes cidades, a tendência para a estratificação social é maior, tornando a comunicação entre indíviduos de diferentes classes precária, quase inexistente. A dificuldade do passo inicial para a concretização de novas ideias que abranjam classes sociais distintas é acrescida. O próprio processo de abertura de novos estabelecimentos comerciais ou espaços culturais é demorado e extremamente competitivo.

Nós, neste pequeno lugar, por muitos inconvinientes que possamos evidenciar, temos facilidades que não se encontram nos grandes centros. Somos quinze mil, mas conhecemo-nos todos. Somos pequenos, mas temos muito por onde crescer. Somos ricos e pobres, mas nem tantos de uns nem de outros. Crescemos juntos, pois não temos para onde fugir. Estas características tornam possível acções individuais e colectivas capazes de movimentar várias pessoas e instituições. O facto de sermos poucos e pequenos permite-nos estar a par da situação actual pormenorizadamente e obter uma cooperação entre todos mais forte e coesa. A prova disto é este jornal, criado em menos de três semanas.

Hoje e aqui, experienciamos uma grande desenvoltura cultural que se exprime de diversas formas: temos músicos, pintores, cineastas, escritores e até cientistas. Adquirimos um estatuto científico reconhecido no exterior através do trabalho desenvolvido, em particular, pelo DOP, departamento o qual muitos e de vários países escolhem como local de trabalho. Agora, crescemos também no universo das artes, refira-se o Cineclube da Horta que este ano, através do FFF08, atraiu grandes nomes do cinema, como Fernando Meirelles, e promoveu o contacto entre pólos de desenvolvimento cultural (Cineclubes) a nível nacional. Sem esquecer também de mencionar o Museu da Horta que para além de dar formação em pintura, a nós residentes, tem trazido várias exposições de nível internacional e dado relevância à arte regional. De outro ângulo, no meio de nós, têm nascido diferentes iniciativas, como a banda “Bandarra”, que mais cedo ou mais tarde, sem sombra de dúvida, será ouvida por muitos outros que não faialenses, ou até, entrelaçada com a nossa cultura, nascem, de outra cultura, mornas caboverdianas pela voz e engenho de Alexandre Delgado, entre outros projectos originais. Fora da arte e da ciência surgem também iniciativas que contribuem para outro tipo de cultura, aquela feita pelos hábitos e mentalidades das pessoas, como o jornal “Avenida Marginal” em que a voz é dada ao povo. A adicionar a tudo isto, estão aqueles indivíduos que por esta razão ou aquela passam por cá e decidem ficar, fazendo arte, construindo cultura, como este último caso de Pedro Solà, uma dádiva da Argentina. Não podemos ignorar a contribuição de todos os que nesta ilha não nasceram mas que a decidiram adoptar como sua, pois sem dúvida, grande parte deste impulso cultural deveu-se a estes – Estrangeiros e Portugueses continentais – por várias razões para além da mais evidente - a de constituriem um público interessado e participativo.

Os factos acima apresentados são sinais óbvios de que o panorama cultural se encontra em desenvolvimento nesta pequena terra rodeada por mar. Mas, para continuarmos crescendo neste sentido os homens não se poderão deixar estar. É necessário o interesse e a participação de todos: o Teatro Faialense, durante o FFF08, na maior parte dos dias, teve o auditório principal meio cheio e meio vazio. Um observador independente diria que tal crescimento cultural não está de acordo com a necessidade do sítio em questão pois não há público para os eventos promovidos e concretizados. No entanto, este observador, não seria um de nós, porque se aqui tivesse nascido e vivido, sabia perfeitamente que o número de pessoas interessadas é muito maior do que aquele que se observa nos espaços culturais. Assim, e com entusiasmo, apelo a que a vontade supere a inércia que nos assombra, para que possamos finalmente crescer.


Jácome Armas


Colaboradores:
Ilustração: Luís Rocha
Crónica: Jácome Armas
Em cima do Joelho: Jacobino Louco
Dança: Beatriz Oliveira
Cinema: Renata Lima e Ricardo Guilherme
Literatura: Ilídia Quadrado
Ciência: Jaen Nieto Amat e Ariadna Bigarós


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