sexta-feira, 26 de março de 2010

Edição nº35



Centro de Artes do Faial

Quanto mais o tempo passa mais se torna evidente que o Faial é um espaço criativo em ebulição permanente. Muitos factores concorrem para este facto, uns deles óbvios, outros menos. É sabido que nas famílias Faialenses ancestrais, por exemplo, havia sempre um ou mais membros que tocavam um instrumento musical, e isso foi passando de geração em geração. Algumas famílias pareciam verdadeiros grupos musicais. A avozinha no piano, o pai no trompete, o filho na guitarra, a mãe a cantar… Sem nenhuma certeza estatística real, sinto instintivamente que esta ilha tem a maior percentagem de pessoas ligadas à música em termos nacionais, relativamente à totalidade da população. Ainda hoje, em quase todas as famílias há quem toque um instrumento.

Para este facto também muito contribuem as filarmónicas, os grupos de cantares, os ranchos folclóricos, o conservatório, e até o iatismo, as antigas colónias dos cabos submarinos, e os milhares de visitantes forasteiros que desde sempre nos visitam, acabando alguns por permanecer meses ou mesmo anos, e por fim as pessoas que sendo de fora, decidem ficar por opção. Mas não é só na música que se sente o pulsar deste povo. É na criação artística de uma forma geral. É na pintura, no artesanato, na literatura, no cinema, no teatro. É no que se vê feito, nos que mostram o seu trabalho nas escolas, nas associações, em exposições individuais, nos palcos, mas também na arte que está reprimida, que não sai de casa, e dos criadores que fazem do seu quarto o seu laboratório de ideias e centro de exposições privado, e que por receio ou falta de condições ou estímulos, não partilham a sua criatividade com os outros.

Mas então perante isto o que é que nos faz falta? Será um aquário virtual? Será uma zona de lojas no futuro cais de passageiros? Será um pavilhão multiusos? Não me parece. O que nos faz falta é um Centro de Artes. O famoso centro de artes de que já se fala há uns tempos. Um local onde os grupos de música e teatro possam ter um espaço de ensaio devidamente preparado e seguro, salas onde artistas plásticos possam criar e expor o seu trabalho, onde se possam fazer tertúlias literárias, onde se possa discutir cinema, onde possa renascer a arte popular, onde se possam dar concertos, e acima de tudo, onde possa haver um intercâmbio de artistas, partilhar ideias, discutir conceitos, de uma forma livre e aberta a toda a população local e visitantes.

Tenho conhecimento que já há algum tempo (desde o mandato anterior) que a Câmara Municipal da Horta está empenhada em providenciar um espaço que reúna estas características, o que é um óptimo indicador para todos os que de certa forma estão ligados ao mundo artístico, e inevitavelmente acabará por acontecer. Mas é sempre importante sublinhar esta necessidade para que não fique esquecida, e para que seja encarada como uma efectiva necessidade e não um capricho ou um luxo. Apostar no património cultural e intelectual torna-nos uma sociedade mais evoluída, mais preparada para receber quem nos visita, e sobretudo mais feliz intrinsecamente.

Afinal, temos de fazer alguma coisa para contrariar este cinzento do tempo que teima em nos acinzentar a alma.


Fausto




Colaboradores:

Capa: Paulo Henrique Silva
Crónica: Fausto
Música: Aurora Ribeiro
Cinema e Teatro: Tiago Vouga- Teatro de Giz
Arquitectura e Artes Plásticas: Ana Correia
Ciência e Ambiente: Parque Natural do Faial, Verónica Neves

Gatafunhos: Tomás Silva

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